Autor: Ana Laura Claudino

Música pop sul-coreana se tornou fenômeno mundial nos últimos anos e vem aumentando a influência do país que tem arrecadado bilhões de dólares com o setor.

Há alguns anos o gênero musical K-pop tem ganhado destaque na mídia formando uma massa de fãs em todo o mundo. O que muitas vezes não se sabe é que esse sucesso dos grupos coreanos faz parte de plano de desenvolvimento econômico estratégico do país, o qual abrangia diversas áreas como cultura e esporte.

Grupos coreanos como o BTS têm alcançado números surpreendentes nas mídias sociais, e consequentemente, na economia do país. De acordo com Hyundai Research Institute o BTS gerou até US$ 32,6 bilhões em receita para a Coreia do Sul nos últimos 10 anos. Além do valor arrecadado pela banda com os shows, plataformas de streaming, e produtos temáticos, o turismo na Coréia do Sul tem sido impulsionado pelos fãs que representam 7,4% dos visitantes no país, totalizando 1.116.422 pessoas, segundo dados da organização do turismo na Coréia, divulgados na Yonhap News.

Esses resultados – que dadas as proporções podem ser equiparados aos rendimentos das indústrias automobilísticas – proporcionaram ao país um desenvolvimento rápido e intenso, permitindo que a economia da Coréia do Sul emergisse mesmo após a guerra e a crise.

Plano de desenvolvimento para modernização e exportação

Desde 1963 o governo sul-coreano tem adotado medidas que favorecem a utilização da diplomacia cultural para se consolidar economicamente e politicamente, pois nesse ano, o ex-presidente Park Chung-hee estabeleceu um plano de desenvolvimento que focava na modernização e exportação no país.
Entretanto, devido às heranças da ditadura que eles haviam passado, essa modernização não foi algo imediato, portanto, a abertura da Coréia do Sul para o mundo foi um processo que teve influência pela ascensão dos Estados Unidos, que na época – entre 1960 e 1990 – disseminava a ideologia capitalista neoliberal. Nesse momento, no contexto social havia uma confusão entre as ideias neoliberais e a cultura coreana que se conflitavam. Então, pressionada a se encaixar nessa dinâmica global, a Coreia do Sul buscou preparar seu mercado para competir mundialmente.
Aproximando-se de uma perspectiva liberal, a Coreia do Sul adotou mudanças estruturais relacionadas ao desenvolvimento de indústrias tecnológicas, por exemplo. Isso permitiu uma consolidação da economia, porém, o país precisou enfrentar a crise asiática de 1997 que atingiu o setor de produtos manufaturados, freando essa expansão econômica. Mas já que o setor de manufaturas estava afetado, o governo viu na Hallyu – ou onda coreana – uma estratégia de recuperação da crise.

Investidores de Hong Kong preocupados com a queda de 15,5% do índice local de ações.

Hallyu (Onda Coreana)

A Hallyu é a disseminação em massa dos produtos culturais da Coréia do Sul a qual foi consequência de grandes investimentos incentivados pelo governo. À princípio os K-dramas, ou Doramas, foram as produções que tiveram destaque devido ao sucesso das obras cinematográficas no Japão, durante o início dos anos 2000. Contudo, os anos seguintes proporcionaram o ápice da indústria cultural do país através da música pop coreana, ou k-pop.

Embora a Hallyu tenha adquirido o papel de promover a identidade nacional somente no governo de Lee Myung-bak (2008-2013), desde meados de 1990 começaram a ser tomadas várias medidas e leis com objetivo da promoção cultural para fins econômicos. Dentre elas, a própria lei de promoção da indústria cultural de 1999, e o Escritório de Indústria Cultural, subordinado ao Ministério da Cultura criado em 1994. A Hallyu também contava com subsídios financeiros e até mesmo com a restrição da transmissão de canais e demais conteúdos audiovisuais do exterior.

Grupo “BTS” na 76ª Assembleia Geral da ONU Foto: BTS/BigHit/Divulgação.

Como isso impacta nas relações exteriores?

A questão cultural está inserida dentro da “Diplomacia Pública” que é um ramo da diplomacia no qual as atitudes públicas são entendidas como forma de influenciar a execução das políticas externas. Nesse caso, a diplomacia é proposta como algo que não é realizado e debatido apenas pelo Estado, mas também por qualquer cidadão inserido nele, ou seja, a opinião pública é um fator dentro das negociações. Por isso, o autor Wilfried Bolewski considera a cultura nacional como um meio de impacto inevitável para as relações exteriores.

Um dos autores importantes para as Relações Internacionais, Joseph Nye, criou o conceito de “soft power”, que considera o poder como a capacidade de um Estado influenciar o outro de acordo com seus interesses sem a necessidade de meios ofensivos (investidas militares). No “soft power” os países são coagidos de um modo muito mais sutil através de meios culturais, como sentimentos valores em comum.

Por isso, a Hallyu e seus efeitos para a expansão da indústria cultural da Coréia do Sul foram tão importantes, pois, atraíram uma boa visão para o país, tendo até mesmo o grupo BTS como convidado para discursar na 76ª Assembleia da ONU. Apesar de não ser possível considerar que a indústria cultural foi a única responsável pelo sucesso do país, ela tem trazido bons frutos advindos das massas, mas também de autoridades de diversos países que interagiram com os ícones da música coreana.


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