Autor: Sofia Almeida Verdu 


Em face da instabilidade econômica e acirramento de questões geopolíticas vividas no século XXI, observa-se uma intensa demanda por ativos considerados seguros, entre eles: o ouro. Como consequência, verifica-se sua valorização a patamares históricos, atingindo a marca de US$3 mil por onça troy. A esse fenômeno, os economistas têm atribuído o nome de “nova corrida do ouro”, dada a revitalização de sua importância. 

O ouro circula como moeda desde 3.000 a.C. e foi protagonista em conjunturas distintas, principalmente nos séculos XIX e XX com o padrão-ouro. Essa centralidade, todavia, foi perdida em meio a guerras e crises, fazendo com que sistemas monetários não lastreados em ouro progredissem. Em decorrência, o ativo evoluiu para uma reserva de valor com reconhecimento global, em função de sua liquidez, durabilidade e escassez. 

No século XXI, entretanto, o ouro reaparece como um recurso estratégico. Em um contexto de busca por ativos fora do alcance de sanções, o ouro emerge, conforme o economista Matheus Spiess (2025), com o objetivo de “proteger o patrimônio em tempos de incerteza”, atuando como uma salvaguarda contra instabilidades econômicas e geopolíticas. 

A alta do ouro intensifica-se em 2020, com a pandemia de COVID-19. Esse salto foi impulsionado, em grande parte, pelas políticas de afrouxamento monetário agressivo desse contexto. A combinação de baixas taxas de juros e incentivos fiscais motivaram receios quanto à inflação e uma eventual depreciação monetária. Como consequência, em busca de segurança, os bancos centrais aumentaram suas reservas de ouro, resultando em uma valorização de mais de 147% no ativo. 

A instabilidade geopolítica é outro elemento que reforça essa tendência. Os conflitos em curso na Ucrânia e as frequentes tensões no Oriente Médio criam um ambiente de incerteza, o que tem motivado bancos centrais de países como Índia, China e Rússia a expandirem e diversificarem suas reservas. Ao aderirem ao ouro, essas nações visam assegurar a estabilidade de suas economias em um panorama global indefinido.

A retomada de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos complexifica ainda mais o panorama. Suas medidas políticas protecionistas somadas à dinâmica entre Estados Unidos e China, que permeiam os âmbitos comercial, geopolítico e tecnológico, intensificam as incertezas globais. Ademais, a perspectiva de desdolarização da economia leva os demais Estados a explorarem opções que não o dólar.

Apesar da valorização esperada, o ouro pode encontrar limitações. Em um cenário de inflação persistentemente alta, o redirecionamento do capital para outros ativos seguros com melhor retorno pode ser uma opção. Ainda assim, a instabilidade global deve sustentar sua demanda a longo prazo, consolidando a importância do ouro no sistema financeiro internacional contemporâneo.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

OLGA, Jasmine. A Nova Corrida do Ouro: Metal Renova Recordes em Meio Às Incertezas Mundiais. Forbes, 24 fev. 2025. Disponível em:https://forbes.com.br/forbes-money/2025/02/a-nova-corrida-do-ouro-metal-renova-recordes-em-meio-as-incertezas-mundiais/

SPIESS, Matheus. A nova corrida do ouro já começou: e aí, vai assistir ou correr junto? Money Times, 21 fev. 2025. Disponível em:https://www.moneytimes.com.br/o-governo-ainda-precisa-acertar-a-rota-urgentemente-2-rnda/