Autora: Isabella Tamaki Babata.

Em 2024, completam-se 150 anos do Impressionismo, movimento que dá origem a um novo paradigma artístico: a arte moderna. Esse estilo de pintura revela as diversas transformações ocorridas no final do século XIX e abre caminho para uma série de vanguardas artísticas, como Expressionismo, Cubismo, Futurismo, Fauvismo, Surrealismo, Dadaísmo, entre outros. Conheça a história e as características do Impressionismo  e entenda como o movimento se relaciona com a arte ao longo dos anos.

O Impressionismo tem nomes como Claude Monet, Auguste Renoir, Édouard Monet, Camille Pissaro, Alfred Sisley e Edgar Degas como seus expoentes. Esse grupo de pintores expôs seus trabalhos no Salão Oficial de Paris em 15 de abril de 1874, onde, inicialmente, não foram bem aceitos pelos críticos da época. O quadro “Impression Soleil Levant” (Impressão: Nascer do Sol), de Claude Monet, é a obra que intitula o movimento. Na realidade, trata-se de uma reivindicação, pois o termo “impressionismo” era usado de forma pejorativa pela crítica, como uma forma de diminuir a técnica utilizada pelos artistas impressionistas.

 

Impression Soleil Levant – Claude Monet | Fonte: Wikimedia Commons

No início, o Impressionismo sofreu certa resistência no meio artístico, pois, naquele contexto (final do século XIX), com a Revolução Industrial e a exaltação do progresso, as técnicas mais valorizadas eram aquelas que conseguiam representar a realidade da forma mais fiel possível, como as empregadas pelo Realismo e pelo Neoclassicismo. No entanto, a partir do advento da fotografia, que surge em 1826 com o daguerreotipo e se populariza ao longo dos anos, os artistas passam a buscar outras formas de ver e representar o mundo.

 

Assim, o objetivo dos impressionistas não era o mesmo do que pregava as escolas tradicionais francesas de pintura. Com a fotografia para capturar a realidade e os seus detalhes, os artistas passaram a se preocupar com outras questões, como captura da luz e da cor em um momento específico do dia, além de retratar momentos cotidianos, da paisagem natural à urbana.

Como colocado pelo historiador de arte Ernst Gombrich

A exploração impressionista dos reflexos das cores, suas experiências com o efeito do trabalho solto de pincel, visavam à criação de uma réplica ainda mais perfeita da impressão visual, Foi somente com o impressionismo, de fato, que a conquista da natureza se tornou completa, que tudo o que se apresentava aos olhos do pintor pôde converter-se em motivo de um quadro e que o mundo real, em todos os seus aspectos, passou a ser um objeto digno do estudo do artista. Talvez tenha sido esse triunfo completo dos seus métodos que fez alguns artistas hesitarem em aceitá-los. Por um momento, pareceu que todos os problemas de uma arte que visava à imitação da impressão visual tinham sido resolvidos e que nada haveria a ganhar em explorar ainda mais a fundo esse objetivo. 

 

Além disso, a preocupação dos impressionistas com a luz do momento pode ser percebida em diversas obras, principalmente nas paisagens naturais de Claude Monet. Para capturar luz e cores momentâneas, os artistas não tinham tempo para misturar ou combinar as cores com precisão, nem para se apegar aos detalhes. O resultado são quadros com pinceladas grossas, com um efeito que, aos olhos dos críticos da época, expressavam uma “falta de acabamento”.

Soleil Couchant à Étretat – Claude Monet | Fonte: Wikimedia Commons

Ao romper com os métodos das escolas tradicionais e se preocupar mais com a percepção e com outros modos de representação, o Impressionismo se torna pioneiro do que viriam a ser as vanguardas artísticas modernas. Se antes a “qualidade” da arte era mensurada pelo quanto uma obra era fiel ao real e aos detalhes, a partir dos impressionistas, torna-se cada vez mais difícil definir o que é arte. Essa discussão atinge seu ápice com movimentos como o Dadaísmo — que rejeitava a lógica e a razão, promovendo o absurdo —, e o Abstracionismo e, mais tarde, com a arte contemporânea.

Dadaísmo: A fonte, de Marcel Duchamp | Fonte: Wikimedia Commons

150 anos após aquela primeira exposição em Paris, o Impressionismo permanece sendo um dos movimentos artísticos mais relevantes, sobretudo quando falamos em arte moderna. Aliás, assim como Vincent Van Gogh (considerado pós-impressionista), outros impressionistas têm sido tema de exposições imersivas nos dias atuais. 

 

Beyond Monet – Exposição Imersiva em Toronto | Reprodução: CNW Group/Beyond Exhibitions

Enquanto alguns apreciadores da arte entendem que as experiências imersivas são uma forma de torná-la mais acessível, outros defendem que essas exposições comodificam o Impressionismo. Baseados em Walter Benjamin, argumentam que o propósito original e a “aura” das obras de arte impressionistas se perdem em meio à reprodutibilidade técnica. Dessa forma, a “impressão” da luz e das cores de um momento único (propósito original dos impressionistas) acabam se tornando “impressões” e estampas de produtos como: quadros decorativos, camisetas, canecas, bolsas, etc.

Além das experiências imersivas, em sites como o DeepAI, é possível gerar imagens no estilo impressionista a partir de comandos simples, o que nos leva a outro dilema contemporâneo: a arte gerada por inteligência artificial é realmente arte? Alguns especialistas compreendem que o uso dessas ferramentas contribui para o aprimoramento da técnica. Outros veem as IAs como uma ameaça a artistas e apontam problemáticas como: o controle que os softwares têm sobre os dados e o modo que monetizam “obras de arte” geradas a partir de uma compilação de trabalhos anteriores, sem, necessariamente, dar os créditos aos artistas.

Não há uma resposta definitiva para essas questões, porém, é interessante notar como os movimentos artísticos refletem as transformações e os novos dilemas que vivemos.  Aos 150 anos, as obras impressionistas continuam a suscitar debates em relação ao progresso da técnica e à definição do que é arte. Além disso, o Impressionismo, que tem como princípio fundamental a captura da luz em um momento específico, nos lembra da transitoriedade da arte e como ela nos permite conceber e representar o mundo de diferentes formas.


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