Autora: Isabella Tamaki
Em 27 de outubro de 2024, os eleitores uruguaios irão às urnas para eleger o novo presidente e os parlamentares que representarão o país nos próximos 5 anos. Os candidatos de cada partido foram escolhidos em junho, nas eleições primárias, com a Frente Ampla — coalizão de esquerda — liderando os votos.
Para compreender as particularidades da corrida eleitoral no Uruguai, entenda como funciona o sistema político uruguaio, conheça os principais candidatos à presidência e os possíveis cenários apontados pelas pesquisas eleitorais.
Como funciona o sistema político e eleitoral do Uruguai?
Sistema político
O Uruguai é uma República Democrática Presidencialista, com divisão de poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário. O poder Executivo é composto pelos Presidente, Vice-presidente e Ministros de Estado.
Já o Legislativo é bicameral e integrado pela Câmara Baixa — com 99 Deputados — e pela Câmara Alta, o Senado, composto por 31 senadores. No Uruguai, o vice-presidente eleito também assume o papel de Primeiro Senador e Presidente da Assembleia Geral.
O Poder Judiciário é constituído pela Suprema Corte de Justiça (designada pela Assembleia Geral), por juizados e tribunais, sendo responsável pela administração da justiça do país.
O processo eleitoral no Uruguai
O ciclo eleitoral no Uruguai começa com as chamadas elecciones internas, ou eleições primárias, onde decide-se qual candidato concorrerá por cada partido. Nessa etapa, o voto dos eleitores não é obrigatório.
Já na Eleição Nacional de outubro, o voto é obrigatório para cidadãos maiores de 18 anos. Quem se ausentar e não apresentar uma justificativa pode receber multas e outras penalidades administrativas.
Na eleição nacional, os eleitores votam em um sistema conhecido como “duplo voto simultâneo”. Os partidos organizam seus candidatos em listas, que incluem opções para cargos legislativos e executivos, exceto para Presidente, onde cada partido apresenta apenas um candidato, previamente definido nas eleições internas.
Os candidatos são agrupados por afinidade política e os partidos divulgam suas listas antes da eleição. No dia da votação, cada eleitor vota em uma única lista de um partido.
No caso da presidência, vence o candidato que alcançar a maioria absoluta (50% + 1 dos votos). Caso isso não aconteça no primeiro turno, há um segundo turno — neste ano, marcado para o dia 24 de novembro — onde os dois candidatos mais votados na primeira fase disputam a eleição. O mandato dos políticos eleitos é de 5 anos e a reeleição consecutiva não é permitida para presidentes e vices.
Quais são os principais candidatos à presidência?
Yamandú Orsi, da Frente Ampla
Um dos favoritos a vencer a eleição presidencial do Uruguai em 2024 é Yamandú Orsi, da Frente Ampla, coalizão de esquerda. Orsi obteve 59.14% dos votos nas eleições internas e é ex-intendente de Canelones, um dos departamentos mais influentes do Uruguai.
O candidato é considerado o “herdeiro político de Pepe Mujica”, um dos grandes nomes da esquerda uruguaia.
Álvaro Delgado, do Partido Nacional
O Partido Nacional — de centro-direita — do atual presidente uruguaio, Luis Lacalle Pou, terá como candidato à presidência Álvaro Delgado, que obteve 74.44% nas eleições primárias. Delgado já foi senador e secretário da presidência da República.
O candidato representa os interesses da direita uruguaia, que tem se consolidado desde o início dos anos 2020, após 15 anos da esquerda no poder.
Andrés Ojeda, do Partido Colorado
Andrés Ojeda é o candidato que concorre à presidência pelo Partido Colorado, tradicional na história do Uruguai. Ojeda obteve 39,50% nas eleições internas e, com 40 anos, é o mais jovem entre os demais candidatos. É advogado penal e apresentador televisivo, com ampla presença midiática.
O Partido Colorado busca se restabelecer na política Uruguaia, já que nos últimos anos perdeu forças para seus oponentes mais polarizados e tornou-se parte da coalizão do atual presidente Lacalle Pou.
O que as pesquisas prévias apontam sobre a corrida eleitoral no Uruguai?
Uma pesquisa realizada pelo Instituto Cifra aponta o Frente Ampla, partido de Yamandú Orsi, como favorito à presidência do país, com 47% das intenções de voto.
Em segundo, aparece o candidato do Partido Nacional, Álvaro Delgado, com 32% e, completando a tríade, Ojeda, do Partido Colorado, com 7%.
Essa pesquisa foi realizada em maio, antes das eleições primárias, que definiram os candidatos à presidência de cada partido.
Já uma pesquisa realizada em julho, pela organização Equipos Consultores, aponta que a Frente Ampla possui 43% de intenção de votos.
Porém, considerando que essa porcentagem é insuficiente para vencer as eleições em primeiro turno, a pesquisa traçou um possível cenário para o segundo turno: a chamada “Coalizão Multicolor” — composta pelo Partido Nacional, Partido Colorado e Cabildo Abierto — teria 37% de intenção dos votos, indicando uma disputa mais acirrada.
Pesquisa de Intenção de Votos – Eleições presidenciais do Uruguai
Fonte: Equipos Consultores
Especialistas em assuntos políticos afirmam que, independentemente de quem vencer as eleições presidenciais no Uruguai, terá de lidar, sobretudo, com questões de ordem social, econômica, ambiental e de segurança, além de definir quais serão os rumos da política externa.
Os governos de esquerda — de Tabaré Vasquez e Pepe Mujica — ficaram conhecidos pelo foco nas políticas públicas de caráter progressista, além de uma maior integração com outros países da América Latina.
No entanto, a partir de 2020, o país vem sendo administrado por uma coalizão de centro-direita, marcando uma mudança na política do país.
Em uma matéria publicada no Le Monde Diplomatique, Bruno Silva analisa a política internacional do Uruguai:
Desde a sua independência, o Uruguai buscou equilibrar sua posição entre seus vizinhos maiores, Argentina e Brasil, e construir uma política externa independente e multilateralista. Independentemente da orientação ideológica do governo, a política externa continuará sendo um elemento central na construção do futuro do Uruguai.
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Referências
DECRESCI, S. O sistema político, partidário e eleitoral do Uruguai. Revista Sem Aspas, Araraquara, v. 4, n. 1, p. 48-62, jan./jun. 2015. Disponível em: https://bibliotecadigital.tse.jus.br/xmlui/handle/bdtse/4706. Acesso em: 25 ago. 2024.
EL PAÍS. Elecciones internas 2024: Resultados en vivo, mapas, votación por partido y departamento en Uruguay. EL PAÍS. Disponível em: https://www.elpais.com.uy/narrativas-visuales/elecciones-internas-2024-resultados-en-vivo-mapas-votacion-por-partido-departamento-uruguay. Acesso em: 25 ago. 2024.
FOLTER, R. Como funciona o sistema eleitoral no Uruguai. POLITIZE! Disponível em: https://www.politize.com.br/sistema-eleitoral-no-uruguai/. Acesso em: 25 ago. 2024.
PODER360. Uruguai define candidatos à presidência: esquerda lidera pesquisas. Disponível em: https://www.poder360.com.br/poder-internacional/internacional/uruguai-define-candidatos-a-presidencia-esquerda-lidera-pesquisas/. Acesso em: 25 ago. 2024.
SILVA, B. Uruguai: eleições e a centralidade da política externa. Le Monde Diplomatique Brasil. Disponível em: https://diplomatique.org.br/uruguai-eleicoes-e-a-centralidade-da-politica-externa/. Acesso em: 25 ago. 2024.
CIFRA. Intención de voto si las elecciones fueran hoy. Disponível em: https://www.cifra.com.uy/intencion-de-voto-si-las-elecciones-fueran-hoy-20/. Acesso em: 25 ago. 2024.
EQUIPOS. Intención de voto en julio: 43% votaría al Frente Amplio y 37% a los partidos de la Coalición Multicolor. Disponível em: https://equipos.com.uy/noticias/Intencion-de-voto-en-julio-43-votaria-al-Frente-Amplio-y-37-a-los-partidos-de-la-Coalicion-Multicolor/260. Acesso em: 25 ago. 2024.
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