Autora: Laryssa Tiengo

Considerado um dos maiores festivais de música do mundo, o Rock in Rio teve sua primeira edição em 1985, no Rio de Janeiro. Idealizado por Roberto Medina, o evento nasceu como uma celebração da música e da diversidade cultural, reunindo artistas de vários gêneros e nacionalidades – especialmente relevante naquele momento, uma vez que o Brasil estava em transição rumo à democracia após anos em regime militar. Desde então, o festival se tornou um marco global, com edições em cidades como Lisboa, Madrid e Las Vegas.

Agora, comemorando seus 40 anos, o evento mais uma vez agitou o cenário musical, com grandes performances e experiências inesquecíveis para o público. No entanto, como ocorre em todo grande evento, o Rock in Rio 2024 também teve altos e baixos. Confira os melhores e piores momentos desta edição histórica:

Dia 13 – Travis Scott, 21 Savage, Ludmilla e mais

Travis Scott durante apresentação no Rock in Rio 2024; imagem: AgNews

Encerrando o primeiro dia do evento, Travis Scott conquistou o título de headliner mais audacioso do Rock in Rio 2024. O rapper subiu ao palco com 40 minutos de atraso, fez críticas à produção por problemas nos telões e entregou uma performance caótica, marcada por gritos, lamentos com autotune e batidas de trap psicodélico, cujo grave ressoava pelo chão, fechando o dia de maneira intensa e turbulenta.

Ele conseguiu reproduzir no festival grande parte da estrutura de sua quarta turnê, “Circus Maximus”, trazendo uma cenografia distópica de terra devastada, com enormes rochas que compunham o cenário. Seus figurinos se inspiraram em uniformes do futebol americano e hóquei, mas com um diferencial por lembrar armaduras de guerra. Um dos problemas se iniciou porque a cantora Ludmilla quase não se apresentou mais cedo por não poder usar a estrutura que queria, nem passar pela passarela, que estava reservada para o norte-americano.

Por falar na Lud, a brasileira também se tornou um dos assuntos mais falados do primeiro dia ao separar um trecho de seu show para desabafar sobre os supostos boicotes que sofreu durante a carreira. Ela relembra sua polêmica do ano passado, quando foi convidada para cantar o Hino Nacional Brasileiro antes do Grande Prêmio de São Paulo de Fórmula 1 2023. A cantora teria errado a letra da canção por uma falha de som, mas alguns internautas reagiram e sugeriram que ela poderia ter esquecido parte do Hino. Ela retoma a questão em sua apresentação, explicando que o combinado da situação era utilizar de playback. Nota-se uma tentativa de se explicar e tirar um pouco da sua culpa, mas, mesmo assim, não pegou tão bem para o público geral.

Além dessas atrações, o dia contou com artisitas como Oruam e Matuê. Sobre os cantores de trap, os internautas dividem suas opiniões – Oruam foi criticado até por ter ser convidado para o festival, já que não pertence ao gênero musical rock, e até sugeriram que Freddie Mercury, o grande astro britânico, estaria decepcionado se ainda estivesse vivo; Matuê, por outro lado, foi elogiado por muitos e apontado como um dos maiores nomes do trap brasileiro. E esse foi apenas o primeiro dia de vários do festival.

Dia 14 – Zara Larsson, Imagine Dragons, OneRepublic e mais

Zara Larsson durante apresentação no Rock in Rio; imagem: AgNews

Zara Larsson é dona de uma das músicas virais do momento nas redes sociais, “Symphony” em parceria com Clean Bandit. A canção tornou-se viral por compor uma trend, onde se expressa de maneira exageradamente feliz em uma imagem de golfinhos e unicórnios coloridos. Entrando na brincadeira, a cantora sueca utilizou os mesmos golfinhos e unicórnios coloridos no telão de sua estrutura.

Ela também foi muito elogiada por sua performance, ótimos vocais e músicas bem conhecidas. Zara se apresentou com um “shortinho” do Brasil, presente dado por Dennis DJ – uma das atrações do mesmo dia – e até dançou funk, entrando de vez na cultura brasileira. Com certeza, sua presença foi um dos melhores momentos do evento.

A banda OneRepublic foi uma das mais comentadas e aguardadas, ao lado de Imagine Dragons. A banda fez sucesso no final dos anos 2000, então houveram fãs antigos e novos no evento. O líder do grupo, Ryan Tedder, demonstrou sua impecável presença de palco. O repertório da banda foi pensado justamente pela conexão com o público, tornando o dia mais especial ainda.

Dia 15 – Evanescence, Avenged Sevenfold, MC Hariel e mais

Amy Lee, parte da Evanescence, durante a apresentação no Rock in Rio; imagem: Rita Seixas

Um das principais nomes do rock alternativo, Evanescence se destacou como uma das bandas mais comentadas do festival. O debate em torno de sua atuação se iniciou pela pouca presença de bandas de rock na line-up, o que gerou indignação entre os fãs do gênero. Liderada por Amy Lee, a banda americana atraiu o maior público do Rock in Rio 2024.

Apesar de um contratempo técnico que afetou a abertura pré-gravada, a performance recebeu aplausos entusiasmados. A banda entrou no palco com um atraso de pouco mais de cinco minutos, o que levou o público a cantar “Evidências” enquanto esperava. No entanto, o problema foi resolvido rapidamente e não comprometeu o show. Nas redes sociais, alguns internautas consideraram o Evanescence a maior atração da edição, destacando a habilidade vocal de Amy Lee e afirmando que a banda “carregou a essência do festival”. A vocalista ainda encantou o público ao arriscar cantar em português durante a execução de “My Immortal”.

Por outro lado, tivemos um dos funkeiros mais aclamados pelo público, MC Hariel. O cantor, conhecido por suas letras conscientes no funk, aproveitou a visibilidade do palco para protestos e declarações. O paulistano levantou um cartaz com a mensagem “parem as queimadas”, como um gesto simbólico. Sua manifestação reforçou a urgência de discutir as medidas efetivas contra os incêndios, que têm prejudicado a nossa biodiversidade, as comunidades e o país. E mais, fez uma emocionante declaração ao funk: “esse movimento que nasce na palma, mas mora na alma. Faz mexer com a mente, com o coração, também mexe com a bunda. O funk é vida, lazer, educação, informação e cultura. Lava a boca para falar do funk!”.

Dia 19 – Charlie Puth, Ed Sheeran, Jão e mais

Jão durante apresentação no Rock in Rio; imagem: Eduardo Carmim

O show do Jão no Rock in Rio seguiu uma estética de programa de TV antigo, desde a abertura à estrutura. A apresentação demonstrou bem seus talentos, por mais que faça um pop rock considerado básico, não significa que lhe faltam boas composições e arranjos, apuro técnico e ideias bem executadas. O cantor paulista faz parte de uma geração do pop brasileiro, assumido em um tom sofrido e emocionado.

Na internet, muitos criticaram sua presença. Alguns diziam que ele não era famoso o suficiente para estar em um evento tão grande, trouxeram o mesmo ponto dele não ser do rock e uma parte simplesmente não simpatizava com o artista. Ele fez um desabafo sobre sua carreira no começo do show, contou como cresceu aos poucos e que nada foi dado de mão beijada – é acreditável quando tantos ainda deslegitimam suas conquistas.

E se o Jão conseguiu sua estimada estrutura, foi graças ao minimalismo de Ed Sheeran. O cantor britânico veio para o Rock in Rio com um violão e muitos talentos. Alguns internautas estranharam não ter uma banda para acompanhá-lo, mas já é característica do ruivo fazer seus próprios instrumentais, utilizando o marcante violão e pedais loop station.

No mesmo dia, também houveram shows Charlie Puth, Will Smith e Gloria Groove. Charlie deu um show de carisma e apresentou vocais impecáveis, a limpeza de seu canto gerou muitos comentários na internet. Will Smith veio como um recomeço de sua carreira musical, demonstrou muita humildade e simpatia quando improvisou um show durante a passagem de show para as pessoas que trabalhavam no horário, que incluía garis e responsáveis pela montagem das estruturas. Mas sobre o show, de fato, criticaram a duração de apenas 18 minutos e por ter arrancado poucos gritos da plateia, mesmo assim, Smith se divertiu bastante.

Por fim, a única drag queen headliner da edição foi ovacionada com apresentação que ficará marcada na história do festival. O show explorou diferentes fases da carreira de Gloria, desde seu início, em 2016, até seus lançamentos mais recentes, passando por diversos gêneros musicais. GG afirmou no palco, “Se o Rock in Rio está fazendo 40 anos, vou fazer o que toda drag faz: “festa”, e realmente contagiou o público com todo carisma, talento e energia.

Dia 20 – Dia Delas

Katy Perry durante apresentação no Rock in Rio; imagem: g1

Quando foi anunciada como uma das atrações da edição, o público estava receoso com que versão da Katy Perry encontrariam. A cantora serviu muitos sucessos durante toda a sua carreira, mas atualmente encontra-se em uma crise existencial, onde já não se identifica com sua arte. No mesmo dia de seu show, ela lançou o álbum “143”, mas soube equilibrar suas fases em seu repertório. No entanto, a diva não foi isenta dos problemas técnicos frequentes este ano, no início, ela foi prejudicada pelo som baixo, mas logo o áudio se ajustou. Com certeza, um dos momentos mais emocionantes foi quando cantou ao lado de Cyndi Lauper.

Por falar em Cyndi Lauper, aos 71 anos, ela impressiona por cantar sem playback em sua estreia no Rock in Rio. Sua carreira foi marcada por críticas de que ela não performava bem ao vivo, e é claro que seus empresários sempre tentaram evitar que ela fizesse grandes performances, tendo em vista que ela acaba se perdendo um pouco em certos arranjos. Porém, a cantora arrasou  na maior parte do show, segurando bem os vocais em canções mais diretas. Com tantas divas no mesmo dia, a canção “Girls Just Want to Have Fun” brilhou ainda mais.

Ao decorrer do dia, houveram momentos incríveis como a cantora Iza exibindo sua gravidez de 8 meses, Ivete Sangalo voando sobre o público ao som de “Eva” e Karol G convidando Sevdaliza, Pabllo Vittar e Yseult para cantar “Alibi” pela primeira vez em solo brasileiro. A presença de Pabllo trouxe o fato dela nunca ter sido convidada a cantar sozinha nesse festival, mesmo sendo uma das drag queens mais conhecidas de todo o mundo. Além disso, o festival contou com a presença da cantora sul-africana, Tyla, encantando o público e esbanjando brasilidade ao dançar “Parado no Bailão”.

Dia 21 – Dia Brasil

Chitãozinho & Xororó durante apresentação no Rock in Rio; imagem: instagram

O Dia Brasil iniciou com o gênero trap, com artistas como Cabelinho, Filipe Ret, KayBlack, Matuê, Orochi, Ryan SP e Veigh. A abertura sofreu uma sucessão de erros técnicos na aparelhagem de som, chegou em um nível que os sete rappers deixaram o palco, após a segunda música ser interrompida, Matuê reclama: “Vamos deixar o palco e esperar eles se organizarem, valeu, pessoal?”. Mas não parou por aí, aconteceram mais erros e o show foi paralisado por completo três vezes. Os artistas tentaram manter o bom humor e brincar com a situação – Ao invés da plateia, que vaiou com toda força até mesmo Zé Ricardo, um dos organizadores do Rock in Rio.

Depois, houve o “Pra Sempre MPB” com BaianaSystem, Carlinhos Brown, Daniela Mercury, Gaby Amarantos, Majur, Margareth Menezes e Ney Matogrosso. Por mais que não seja rock, essa sessão não recebeu as mesmas críticas que o funk ou o trap. Gaby aproveitou sua participação breve no festival e teceu uma crítica, cobrando mais representatividade paraense na programação, mas não foi a única a fazer isso. Desde a divulgação da line-up, público e artistas criticam que, especialmente no “Dia Brasil”, não há cultura nortista. Em nota, o evento esclareceu que não havia finalizado as negociações da programação e, depois, incluiu Zaynara, Gang do Eletro e as Suratas do Tapajós.

No “Pra Sempre Sertanejo”, o evento contou com Chitãozinho e Xororó, Orquestra Heliópolis, Ana Castela, Junior (filho de Xororó) e Simone Mendes. A line-up contava com Luan Santana, mas este cancelou sua apresentação momentos antes de subir ao palco após atrasos no festival, que comprometerem sua agenda. O sertanejo já tinha marcado um show em Santa Catarina, e o atraso se iniciou na sessão de trap por conta dos problemas técnicos. Como um dos gêneros mais ouvidos no Brasil, o espetáculo se tornou um karaokê com o público.

E claro, tivemos a parte do rock com Capital Inicial, Detonautas, NX Zero, Pitty, Rogério Flausino e Toni Garrido. Essa, com certeza, foi a parte do dia mais aclamada. Em diferentes palcos, tivemos samba, rap, pop, eletrônica, funk, bossa nova, música clássica e muitos outros. O tema do dia foi escolhido para enaltecer a cultura brasileira, mas foi apontado também como o dia com maiores problemas e erros técnicos. Foram atrasos inestimáveis, ausência de artistas indispensáveis e erros que não deviam ser tão comuns para um evento de tamanha magnitude.

Dia 22 – Akon, Mariah Carey e mais

Akon durante apresentação no Rock in Rio; imagem: Divulgação

Infelizmente, o show do rapper foi marcado por muitos deslizes. A primeira foi ele ter confundido a cidade em que se apresentava, gritando “São Paulo, como vocês estão se sentindo hoje?”, ainda emendou com “vocês estão prontos?”, mas os fãs responderam com “Rio de Janeiro! Rio de Janeiro!”. Ele não se corrigiu, apenas seguiu com o show. Também houve o caso de playback, já que era notório, tanto ao vivo quanto por transmissão, que o artista contou com a ajuda de uma gravação para se apresentar. Alguns fãs o defenderam, declarando que ele fazia isso desde o início de sua carreira, mas, de qualquer forma, não pegou bem para a maioria do público. No final da performance, Akon teve um imprevisto e durante sua ausência, o DJ tocou alguns hits brasileiros. Ao retornar, o norte-americano voltou dentro de uma bola inflável de plástico e tentou ir para o público, porém, ao descer as escadas do palco, a bola furou. Uma falta de respeito que comoveu parte do público foi na despedida do artista, que simplesmente cortaram seu microfone e suas palavras não puderam ser ouvidas por seus fãs. Entretanto, ainda foi emocionante só por sua volta à indústria musical.

Embora não estivesse no palco principal como Akon, a diva Mariah Carey também foi uma das apresentações mais aguardadas. Ela subiu no palco usando um vestido com a bandeira do Brasil e iniciou com a canção “Obsessed”. Até arriscou algumas palavras em português ao demonstrar seu amor pelo país, mas não ficou de fora das acusações de playback por seus agudos poderosos e reclamações por “ficar parada o show inteiro”. Por sua carreira, muitos fãs esperavam que ela estivesse no palco principal, outros argumentaram que para estar no Palco Mundo, precisava de um nível de espetáculo que a norte-americana não possuía. Mas então, puxaram de exemplo Ed Sheeran e seu minimalismo para o debate do que é necessário para estar no palco principal.

Enfim, o Rock in Rio 2024 certamente ficará definido pela mistura de grandes momentos e desafios superáveis. Enquanto o festival manteve seu compromisso com a diversidade musical e cultural, trazendo artistas de diferentes gêneros e origens, também não escapou das críticas, especialmente em relação à organização e aos problemas técnicos.

Ainda assim, momentos inesquecíveis, como o espetáculo do Evanescence, a presença marcante de artistas brasileiros e as homenagens à música mundial, reafirmam o papel do evento como um dos maiores e mais influentes festividades musicais do planeta.

Agora, à medida que o Rock in Rio se encaminha para novas edições, a expectativa do público é por uma produção ainda mais ágil, capaz de superar as falhas desta edição e continuar proporcionando experiências únicas. O festival segue como um símbolo de celebração da música e da união entre diferentes culturas, e certamente continuará atraindo multidões ansiosas por mais.


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